Marcelo Karapotó – Nós simplesmente seguimos nossa mãe

A mãe para gente é a Terra, ela gira, ela canta. A gente canta acompanhando a Terra, neste momento temos que esquecer tudo e só pensar nela.

Se precisarmos derrubar um mato aqui hoje, já temos outro lugar ali que estamos deixando para repor.utilizamos a terra para o plantio sem agredir a natureza.Aqui nós temos a área de produção e criação, uma mata de extração para nosso uso e outras 3 áreas de reserva permanente, que ninguém pode mexer.

A área de mata corresponde a 40-50% do nosso território. No início da retomada aqui só tinha capim, por ser área de fazendeiros que criavam gado. Nesta época a área de reserva era por volta de 2%.

A terra tem poder de ressuscitar. Nós confirmamos isso, hoje em dia os animais estão reaparecendo, já encontramos veado, raposa, capivara,
tatu, preá, coelho, camaleão, lontra e outros que não eram vistos no início da retomada. Nessa época também tínhamos problema com água,
porém agora o açude foi recuperado. Aqui não trabalhamos com veneno. O mato limpa todas as impurezas e fortifica a terra.

O índio tem essa consciência: a Terra é que nem a gente. Porque a gente tem cabelo? Deus colocou cabelo na gente à toa? Deus colocou a
mata em cima da Terra à toa? Nós temos poros para respirar, a terra também tem cabelo, são as matas, por onde a terra respira.

Nós sabemos que precisamos usar a mata, mas temos que preservar também a vida. Para nossa mãe viver, como nós. Para ela respirar e nos manter em cima dela.

Marcelo Karapotó Prak-ô