POEMINHA CÓSMICO
Um Mundo Melhor é Possível,
Comece Agora:
Ame a si mesmo,
A sua família
E o lugar onde vive.
Cultive um canteiro
De ervas e flores
Na sua casa,
Bairro ou escola e,
Não maltrate os animais.
Dê um BASTA
À contaminação nos alimentos,
À poluição dos rios,
Mares, cidades e,
À poluição sonora nos bares, igrejas e,
Nos carros dos boçais.
Cuidado! Cuidar do broto e,
Cuidar do Homem!
Com simples atitudes de proteção da vida,
Fará a diferença e,
JUNTOS, O MUNDO MELHOR!
Somos parte
Do Organismo Cósmico.
Não vivemos apenas
As nossas vidas.
Somos parte do Organismo Cósmico.
Não vivemos apenas as nossas vidas.
Somos parte do…
ALÔ AMBIENTAL
À Rede Brasileira de Educação Ambiental
A Rádio Popular entra em sua freqüência
MoVida pela REDE
E dá o seu Alô Ambiental!
– Salve Oh, Espíritos das Matas!
Cuidado! Cuidar Homem!
O Movimento pela Vida estendeu sua REDE,
– Lençol multicor, multiétnico
– Isto e aquilo e o bicho homem…
“É tempo de murici” e do espicho
Por causa da TEIA que reclama
Os sucumbidos nas pilotagens de mão única!
Aumente a sua freqüência:
TUDO está INTERLIGADO
Tá se ligando?
(Banho de ervas e o Macuco da Mata;
Os Ribeirinhos do Velho Chico e de outras bandas de ri).
Pur’donde andamos danamos as águas
Com mercúrio, plástico, pneus e
aterramos lagos, lagoas e rios.
(O Quepe do General e o Botoque do Raoni;
Encourados do Nordeste e os Badameiros das Polis;
As Mulheres da Babaçu e as Marisqueiras de Alcobaça;
Micos extintos nas matas e tantas crianças mortas
Nos Lares, escolas e ruas…)
Aumente a sua frequência:
TUDO está INTERLIGADO
Tá se ligando?
A Rádio Popular entra em sua frequência
Pois a REDE conspira e conclama
Ou mudamos de Atitude
Ou na próxima esquina
A Esfinge devora Todos!
Do barro à poesia,
Do lúdico à parabólica assumir:
TODOS SOMOS UM
E que temos a magnitude e o risco
Ao Fazer ou Deixar de Fazer
Eis os sinais na lua, na terra, nos rios,
Na Ameríndia, na África, em Bagdá e em Nun-Sei-Lá…
A Rádio, teimosa, entra em sua frequência e afirma:
Do lúdico à parabólica assumir:
TODOS SOMOS UM
Tá se ligando?
TODOS SOMOS UM
SOMOS TODOS
UM
UM
ALBUM DE FAMÍLIA
Ê juritis, borboletas e marias-leques
Rios, riachos e ribeirões
Estrepes, gravetos e gravatás
Sapezais – trapézios das malandrices
De micos saguins e bugios!
Meu juazeiro, meu jatobá: – onde andam?
Araribá, ariranha, ararinha: – onde? Onde?
Por onde andarão, jaguatirica, taiabocô,
Macaco-da-noite, preguiça e tamanduá: –
Conseguiram se esconder?
Dó! dos Assuns-Pretos e dos Galos de rinha,
Tartaruguinhas, passarinhos e passarões!
Minha bromélia, guapeva e cambuci
Resistência impávida – Sertão Ancestral!
Vossas seivas nos salvem do “tempo de murici”
E de um futuro “embaúba”!
(Baú de babau! Babou: acabou!
Se findou! Já era!)
Ê, São Lourenço, tempo ruim!
Ê, São Lourenço, cadê o vento?!
“CICLO¹”
Vamos procurar o camin!
O camin d’aldeia, camará!
Maré baixa, maré alta,
Vida, movimento sem fim,
Mutirão p’ra conscientizar:
Que bomba é desamor, camará!
A volta que a Rede deu
É a Teia quem sustenta, camará!
P’ra ter trabaio p’ra Yoyô,
P’ra ter peixe p’ra Yayá,
P’ra ter verde e mais amor,
P’ro mundo inteiro, camará!…
___________________
¹ Poema musica para a peça teatral “A Bomba Na Rede da Teia” com texto, concepção e direção geral de Ademario Ribeiro e produção da Associação ARUANÃ em 2001. Link para fotos e textos desse espetáculo: http://ademarioar.blogspot.com.br/2010/04/fronteira-da-teatralidade-bomba-na-rede.html
MARIA-LEQUE²
Maria-Leque, ave secreta,
Já não abre seu leque
P’ra descansar!
Toda hora é a seta
Enganosa do new apocalipse tec
A lhe ameaçar!
Árvores de laser e fumaça
Dragões supersônicos e tantas gias!…
Maria-Leque, fuja! Adelgaça!
Ave rara, parente do Bem-te-vi
Abre teu leque,
Chegou a ameaça:
O Homem já tá aqui!
Ave secreta, adelgaça!
Ave rara, fuja!
…Te embrenha, te emprenha,
Te embrenha, te emprenha…
___________________ ²Nome científico: Onychorhynchus Coronatus
MORMAÇO³
Dedicado ao Dércio Marques.
EIA que baticum
Que retumba diferente
Fazendo danação!
Come e devora araticum
Escarrera toda gente
Erva água bicho do sertão!
O banzé que sarapanta
Lá dentro do cerrado
Que toda região se espanta
– Mas, o que é que é?!
(É foice, trator, machado
do minerador madeireiro coroné!)
Foge, corre, esconde
Pinima, mico-leão, uirapuru.
– Curupira, vamu p’ra onde?!
Foge, corre, esconde
Payayá, Kiriri, Xukuru.
– Jurupari, vamu p’ra onde?!
Foge, corre, esconde
Guassatonga, ipê, mulungu.
– Caipora, vamu p’ra onde?!
Foge, corre, esconde
Velho Chico, Tietê, Paraguaçu.
– Mboiuna, vamu p’ra onde?!
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³Em Sertanez e Tupí.
O RIO E O LÚDICO
Para Dércio Marques e Lucivone Carpintero
O rio foi um dia
Em minha vida,
Eu vi, era lindo (ainda!)
Hoje, não, o “gato” comeu
E o que “era doce”
Acabou na pindaíba!
Grita aqui dentro
Já no Homem velho
A dor da Criança lá fora
Que mal fala
Mal vê, mal brinca…
É que os malditos
Mandaram a manobra:
E haja bomba, mercúrio,
Desvio e invenções mal intencionadas,
E, o meu barquinho de papel se foi
Se foi o brinquedo
O Bumba-Meu-Boi
A Boneca de Milho, o Corrupio
E o Sapo-Boi (indeciso:) foi, não foi…
E lá se foi vida afora
Que o “gato” comeu,
(Mas, quem já viu o Rio uma vez,
Estará Sempre Encantado)
E (aí) o Rei Mandão e a Bruxa Má
Não poderão impedir do Rio voltar
Na Roda Cirandeira!
O Rio ficará guardado, secretamente,
Para Todo o Sempre, Awerê!
A literatura indígena pela crença de Bem Viver/Bien Vivir/Yby Marã’Eyma/Yvy Marã Ei/Sumak Kawsay4.
Autores(as) indígenas apresentam sua etnoliteratura com as terminologias diversas: literatura indígena, nativa, originária, aborígene, etc. Ela germina-se de nossos pontos de vista, do ethos e cultura de cada povo que nos engendrou e engendra para anunciamos quem fomos e somos. Nossa identidade, sentimento e nos afirmar abraçados em conexão com O Grande Espirito e, assim, celebrar com a Mãe Natureza saberes, bens e tradições culturais e, interculturalmente com todos iguais e diferentes pelo Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, México, Peru, Venezuela, por toda a América Latina e pelo mundo afora. Entre centenas de autorias indígenas no Brasil, destacamos: Cristino Wapichana, Edson Kayapó, Eliana Potiguara, Daniel Munduruku, Graça Graúna, Juvenal Teodoro Payayá, Kaka Wera Jecupé e Yaguarê Yamã.
Léguas e léguas para chegarmos aqui no século XXI e porque estamos juntos, iguais e diferentes, unidos pelo Grande Espírito propomos desenvolver nossas histórias, memórias, visões, ações y crenças dos povos originários em diversos pontos de Madre América Latina. São palavras e atividades individuais ou envolvidas em movimentos indígenas, sociais, artísticos, ambientais… Todos eles e elas buscando estratégias para manter e valorizar suas identidades étnicas, tradições culturais as más diversas e pela sustentabilidade planetária fundadas nas crenças/profecias/mitos do Bem Viver, ou seja, da Yby Marã’Eyma dos Tupí, da Yvy Marã Ei dos Guaraní ou Sumak Kawsay de origem Quéchua.
Para o antropólogo, jesuita e lingüista Xavier Albó (2016, p. 1)), esta nova expressão mobiliza uma velha crença: “Buen vivir/Vivir bien” e a conceitua assim: “Buen vivir/Vivir bien” en general refleja una cosmovisión y una utopía: la manera de percibir, sentir, entender y proyectar el mundo. Tanto los seres humanos como la naturaleza son, en este entendido, portadores de derechos y obligaciones”.
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4 Texto inspirado na tese de mestrado deste autor, intitulada: La enseñanza de las historias y culturas indígenas en los años finales de la enseñanza fundamental en las escuelas “x” y “y”, del Estado de Bahía, a ser defendida na Universidad del Salvador (USAL), Buenos Aires, Argentina.
A literatura indígena entre outros temas anuncia este Bem Viver com a força ancestral de seus povos. São sementes que vamos espalhando para que a Terra Sem males floresça em todos os Povos da Terra Inteira e se perguntarem:
– De quem estão falando?
Responderemos:
– De crenças e lutas, bênçãos e celebrações.
– De onde vêm essas vozes?
– Das florestas, rios, campos e cidades, dos saberes dos nossos ancestrais.
– O que propõem?
– Viver bem. Bom viver. A terra sem males.
– O que você quer alcançar?
– A terra sem males. Viver bem o bom viver.
Os indígenas sempre lutaram, como podemos observar a cronologia de nossas agencias em diversos períodos. A “causa” indígena abraça: o direito a vida, a moradia, ao emprego, ao meio ambiente equilibrado, a agricultura saudável, as tecnologias, a educação básica e universitária. O que mobiliza os indígenas é a justiça, o equilíbrio de forças e poder, a alteridade, equidade… uma vida sem desigualdade entre pessoas e pessoas e pessoas, filhos e filhas da Mãe Terra. A voz indígena de Davi Kopenawa na epígrafe da obra “A Queda do Céu” (2015):
A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. Se conseguirem, os rios vão desaparecer debaixo da terra, o chão vai se desfazer, as árvores vão murchar e as pedras vão rachar no calor. A terra ressecada ficará vazia e silenciosa. Os espíritos xapiri, que descem das montanhas para brincar na floresta em seus espelhos, fugirão para muito longe. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chama-los e fazê-los dançar para nos proteger. Não serão capazes de espantar as fumaças de epidemias que nos devoram. Não conseguirão mais conter os seres maléficos, que transformarão a floresta num caos. Então morreremos, um atrás do outro, tanto os brancos quanto nós. Todos os xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai desabar. (Kopenawa e Albert, 2015, p. epígrafe)
Estamos, cotidianamente construindo o Memorial de Ameríndia, cuja cronologia de mortes e violências as mais cruéis – não podemos esquecer – de homens e mulheres que foram mártires de seus povos e em favor de liberdade. Não podemos esquecer porque a crença do viver bem, o Bem Viver é mais forte que antes. As experiências de autorias indígenas fazem dos seus livros de narrativas, prosa e poesias maracás, tambores e flautas que fortemente têm vibrado a alma ameríndia em conexão com o esse ideal do Bem Viver contra toda justiça e desigualdade!
Referências
Albó, Xavier. Buen vivir/Vivir bien. Boletín Virtual nº 626, Año 15, 2016.
Dispoível em: www.cipca.org.bo e, también en: http://www.alainet.org/es/articulo/176358>. Aceso em: 22.02.2017.
Kopenawa, D. Albert, B. A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami/Davi Kopenawa e Bruce Albert; tradução Beatriz Perrone-Moisés; prefácio de Eduardo Viveiros de Castro — 1a ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2015. Disponível em:
https://leiaarqueologia.files.wordpress.com/2017/08/davi_kopenawa___bruce_albert_-_a_queda_do_c_u.pdf>. Aceso em: 19.10.2017.