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O Grupo Principal das Nações Unidas para os Povos Indígenas expressou preocupação sobre o potencial contínuo de  que as vozes dos povos indígenas sejam negligenciadas na Agenda de Desenvolvimento Sustentável, apesar de suas aspirações de ser inclusiva (UNIPMG, 2015 ). O objetivo desta rede de pesquisa é desafiar essas tendências através de uma exploração das perspectivas indígenas sobre a sustentabilidade e o uso da criatividade para expressar alternativas.

“Sumak kawsay” é um termo kichwa que se traduz em português como “bem viver” ou “viver bem”. Tornou-se muito proeminente na América Latina nos últimos anos, vindo a ser incluído nas constituições do Equador e da Bolívia desde 2008 e 2009, respectivamente. Seus princípios básicos incluem a preocupação com o meio ambiente, a vida comunitária pacífica e a redução das desigualdades econômicas e sociais. Embora esses princípios pareçam se alinhar bem com o discurso do desenvolvimento sustentável expresso nos ODS, da perspectiva das comunidades indígenas, o sumak kawsay não deve ser equiparado ao conceito de “desenvolvimento”, por mais sustentável que seja. Em vez disso, oferece uma visão alternativa decolonial e pós-desenvolvimentista da civilização e das aspirações humanas. Como disse o exímio pensador e ativista Eduardo Gudnyas, “[Sumak kawsay] nos ajuda a ver os limites dos modelos de desenvolvimento atuais e nos permite sonhar com alternativas que têm sido difíceis de cumprir até agora” (citado em The Guardian).

Mas o sumak kawsay também não é uma panaceia global. Onde o discurso foi integrado à cultura dominante nas nações da América Latina, as comunidades indígenas tendem a sentir que ele foi usurpado e usado como uma maneira de impor o desenvolvimento, fazendo parecer que suas vozes são ouvidas nos fóruns nacionais. Também não se pode presumir que todas as comunidades indígenas entendam que o sumak kawsay significa o mesmo, nem que o sumak kawsay, como entendido pelas comunidades indígenas, anunciará automaticamente um estado de perfeita harmonia e igualdade.

Essa rede de pesquisa enfocará essas questões em colaboração com comunidades indígenas no nordeste do Brasil e no sudoeste da Colômbia; comunidades que, em maior ou menor grau, têm uma visão crítica dos ODS e que desejam explorar e compartilhar sua visão do futuro com o mundo. Ela aborda uma lacuna na pesquisa existente sobre a questão, olhando além da incorporação do conceito no Equador e na Bolívia, e tentando sonhar com alternativas além dos debates sobre o sumak kawsay versus o desenvolvimento sustentável.